sábado, 17 de novembro de 2012

Não agüento mais: insultos contra funkeiros




Música da “plebe” sempre foi motivo de confusão. Se nos bailes de gala as moças (que faziam parte da monarquia, burguesia e qualquer outro Ia que remeta uma “castra” rica) tinham que dançar elegantemente com seus saltos altos e com seus vestidos caros. Ao ar livre as mulheres camponesas ou sem “classe econômica”, podiam dançar de forma mais solta, pulando, rindo verdadeiramente. A vista dos nobres, homens ou e mulheres da plebe pareciam selvagem sem classe.



Eu fui no ano de 1630 dc  para provar que o que é do povão é sempre hostilizado  por aquele que tem dinheiro.  O funk no Brasil teve sua origem no Rio de Janeiro nos anos 80 e as festas que tocavam esse tipo de música são chamados de : baile funk. Afinal antes disso no rio era bem comum ter: baile matine para crianças, baile de máscaras, baile de gala e por ai vai.




O ritmo a meu ver é muito bom e diferente do que muitos falam as letras não fazem uma apologia e sim relato de como é a vida no morro. Nos anos 93/94 uma das músicas que eu mais escutava nas rádios do Rj dizia assim:

“Eu só quero é ser feliz,
Andar tranquilamente na favela onde eu nasci, é.
E poder me orgulhar,
E ter a consciência que o pobre tem seu lugar.
Fé em Deus, DJ
Minha cara autoridade, eu já não sei o que fazer,
Com tanta violência eu sinto medo de viver.
Pois moro na favela e sou muito desrespeitado,
A tristeza e alegria aqui caminham lado a lado.
Eu faço uma oração para uma santa protetora,
Mas sou interrompido à tiros de metralhadora.
Enquanto os ricos moram numa casa grande e bela,
O pobre é humilhado, esculachado na favela.
Já não aguento mais essa onda de violência,
Só peço a autoridade um pouco mais de competência.”
do Rap Brasil.



Mais tarde no ano 95 o Brasil que não conhecia o funk fica sabendo do funk melody com Claudinho e Bochecha e outros artistas que em suas letras só falavam de amor. 

grupo you can dance

E isso aconteceu de forma mais clara quando a Xuxa em seu programa, Planeta Xuxa (1997), que passava aos sábados a tarde levava sempre música funk e com o grupo you can dance que fazia parte do programa.


Do ano 2000 até hoje, o funk melody foi desaparecendo e foi aparecendo um funk que supostamente faz apologia ao sexo, drogas e vulgaridade. A palavra apologia é pesada por que com certeza uma pessoa do morro no Rj não faz uma música pensando vou mudar a sociedade  cantando isso ou aquilo . Ele ou ela canta apenas aquilo que é do seu convívio. 

E esse convívio foi mudando as letras também. A hipocrisia da “nobreza” contemporânea em taxar que o funk não presta, porém dentro de suas casas escutavam o funk, ou em suas boates particulares só com pessoas ricas.   E essa situação é denunciada na música:

“É som de preto
De favelado
Mas quando toca ninguém fica parado
Tá ligado
O nosso som não tem idade, não tem raça
E não tem cor
Mas a sociedade pra gente não dá valor
Só querem nos criticar pensam que somos animais
Se existia o lado ruim hoje não existe mais
Porque o funkeiro de hoje em dia caiu na real
Essa história de porrada isso é coisa banal
Agora pare e pense, se liga na responsa
Se ontem foi a tempestade hoje vira abonança
Porque a nossa união foi Deus quem consagro
Amilke e Chocolate é new funk demoro” do Amilcka e Chocolate.



Essa música teve mais notoriedade para sociedade com classe econômica quando a cantora Fernanda Abreu gravou essa música e vários outros funks no  cd intitulado MTV ao Vivo: Fernanda Abreu (2006).

E mais perto de 2012 muita música  que em sua letra dizia que um tapa pode dar na mulher,  que a mulher bêbada é melhor por que ela esquece que é casada e tem relação sexual com outro homem,a mulher ser chamada de cachorra passa a ser um elogio e por ai vai. Surgem as mulheres frutas (relacionado ao nome da fruta com formato da bunda) que cantam e dançam. No entanto isso é um retrato de como a mulher na favela é tratada. 



E curiosamente a mesma mídia que condena essas letras não mostra que muitas filhas de famílias ricas passam a subir o morro e ter uma relação de admiração pelos “donos” do morro, que em seus bailes na comunidade exibiam suas armas (de fogo).  Passa a ser uma excitação subir ao perigoso morro e a ter relações amorosas com os “donos” do morro. Isso foi retratado em uma novela da rede Record  chamada, Vidas Opostas.


Com advento do facebook no Brasil o Funk voltou a ser alvo dos comentários que a meu ver chega a ser preconceituoso.

Não aguento mais: insultos contra funkeiros.

Obs: Funk não está no meu topo list de música de todo dia, porém já escutei muito  funk e ao fazer esse texto escutei várias músicas antigas e cantei todas elas. É muito bom ter a mente aberta e ver tudo por vários ângulos. E o ângulo do meu texto é único e exclusivo cultural.

Texto de Rani MOL

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