terça-feira, 11 de maio de 2010

Poesia dissertativa

NÃO HÁ VAGAS
(FERREIRA GULLAR)

O preço do feijão
Não cabe no poema.
O preço do arroz
Não cabe no poema.
Não cabem no poema o gás
A luz, o telefone
A sonegação
Do leite
Da carne
Do açúcar
Do pão.

O funcionário público
Não cabe no poema
Com seu salário de fome
Sua vida fechada
Em arquivos.

Como não cabem no poema
O operário
Que esmerila seu dia de aço e carvão
Nas oficinas escuras.

__ porque o poema, Senhores,
Está fechado:
“não há vagas”

Só cabe no poema
O homem sem estômago
A mulher de nuvens
A fruta sem preço.

O poema, senhores,
Não fede
Nem cheira.

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